"...Tempo, tempo tempo... Já não me assustas mais. Acho que me acostumei com sua passagem. Cedi ao fato de que és livre, e que tens pressa.
Mas vez ou outra ainda te enrolo, e te faço parar por um instante. Te faço demorar um pouco enquanto eu olho nos olhos de quem amo. Enquanto eu gravo os momentos na memória,esperando a saudade chegar.
És livre, tens pressa, mas ainda guardo um pedacinho de ti, quando passas por mim. Te guardo quando percebo que não te tenho, e que daqui a pouco, me vou junto contigo
."

quarta-feira, 29 de abril de 2020

Saudade é querer morar no outro. É não poder teletransportar.
É saber que nada é como antes. Já não somos os mesmos.
Estar preso na memória intocável, neblina que se dissipa.
É o carinho que falta, toque de conforto em intenção.
Querer voltar atrás, atravessar as portas, pontes, viagens no tempo.
Precisar estar presente avistando de longe.
É reservar e cuidar do espaço do outro no meu bem querer até que ele possa voltar.
É a certeza de que tudo vai ficar bem. 

segunda-feira, 27 de abril de 2020

I have forgiven myself
For not being ok
For not doing everything
For not being on top
For my need of space
For my way of dealing with things

In the forgiveness I've realized
The nothing to forgive
The embrace I just gave
To my true self

quarta-feira, 22 de abril de 2020

Fica. Arrasta a cadeira e se acomoda por aí que te faço um café. O mundo lá fora ainda é o mesmo e vai continuar sendo nos próximos instantes.
Me conta da vida, dos planos, dos passos. Me olha. Divide comigo. A pressa não tem porquê de ser. Amanhã os dias voltam a se embolar e passar num filme apressado. Amanhã o ponteiro volta a girar. Mas por enquanto fica.
Da passagem das coisas a gente entende, e sabe que já já tudo muda. Nenhum momento pode ser agarrado por tempo demais, mas só por agora, eu posso ficar. Escolho ficar. Só o que fica da vida, no final dos dias, são isso... os instantes em que paramos no tempo.

sexta-feira, 17 de abril de 2020

Tum, ta. Tum ta. A batida é agora perceptível. Os músculos da coxa vibram em sincronia com o movimento dos pés, inquietos. Tudo em segundo plano. O exercício aberto passa despercebido pelos olhos enquanto os pensamentos martelam as escolhas e as respostas. As tarefas interrompidas a cada 30 segundos pra verificar as atualizações.  A definição não podia ser mais clássica: estar no presente vivendo o futuro.
Portões trancados, tudo se expande. Gota vira onda e brisa, furacão. O mais tênue dos controles... Os pensamentos se amontoando para que não haja espaço vazio. As tarefas na agenda marcadas em vermelho. Portas trancadas, fantasmas confinados conosco. Nenhum lugar para ir.

I feel it all over now. 

quinta-feira, 9 de abril de 2020

Free bird

Ser livre é, frequentemente, ser só. O lembrete agora é guardado de cor. De cor: aquilo que está no coração.
A mudança de cenário sinaliza que a repetição das situações (erros?) não é casualidade mas o padrão. O ponto de transição foi pra sempre perdido. O novo se apresenta e toma lugar, resiliente, em meio à tantas outras mudanças  conquistadas... de que são feitas as correntes?

Às voltas com amizades distorcidas de sentido, ao fim do giro me vejo sempre só. Por um lado, sempre agraciada de encontrar no amor o melhor amigo, por outro, amaldiçoada de ter me restado apenas esse. Não devia ter que ser uma escolha.

Nas amarras invisíveis cautelosamente por mim tecidas, me enrolo como a presa da aranha dos meus pensamentos. Me alimento e retroalimento de impressões que só tem duas possíveis origens: a banalidade ou a inexistência.

O consolo da unicidade deu lugar à ciência do isolamento, e as grades, à tinta colorida do muro. O próximo passo é derrubá-lo. Crescer tem dessas coisas. Nenhuma escada alta demais é convidativa, e um caminho cheio de espinhos certamente desanima os visitantes. Mesmo a mim espantaria. Ainda assim é dolorosa a compreensão e o trabalho de abrir os portões, regar as flores, por o tapete de bem vindo à porta.

Bloco a bloco, no caminho inverso, vai sendo retirado. Varro à poeira ao ver ao longe um corajoso visitante. Fique à vontade, pode entrar.