"...Tempo, tempo tempo... Já não me assustas mais. Acho que me acostumei com sua passagem. Cedi ao fato de que és livre, e que tens pressa.
Mas vez ou outra ainda te enrolo, e te faço parar por um instante. Te faço demorar um pouco enquanto eu olho nos olhos de quem amo. Enquanto eu gravo os momentos na memória,esperando a saudade chegar.
És livre, tens pressa, mas ainda guardo um pedacinho de ti, quando passas por mim. Te guardo quando percebo que não te tenho, e que daqui a pouco, me vou junto contigo
."

quinta-feira, 9 de abril de 2020

Free bird

Ser livre é, frequentemente, ser só. O lembrete agora é guardado de cor. De cor: aquilo que está no coração.
A mudança de cenário sinaliza que a repetição das situações (erros?) não é casualidade mas o padrão. O ponto de transição foi pra sempre perdido. O novo se apresenta e toma lugar, resiliente, em meio à tantas outras mudanças  conquistadas... de que são feitas as correntes?

Às voltas com amizades distorcidas de sentido, ao fim do giro me vejo sempre só. Por um lado, sempre agraciada de encontrar no amor o melhor amigo, por outro, amaldiçoada de ter me restado apenas esse. Não devia ter que ser uma escolha.

Nas amarras invisíveis cautelosamente por mim tecidas, me enrolo como a presa da aranha dos meus pensamentos. Me alimento e retroalimento de impressões que só tem duas possíveis origens: a banalidade ou a inexistência.

O consolo da unicidade deu lugar à ciência do isolamento, e as grades, à tinta colorida do muro. O próximo passo é derrubá-lo. Crescer tem dessas coisas. Nenhuma escada alta demais é convidativa, e um caminho cheio de espinhos certamente desanima os visitantes. Mesmo a mim espantaria. Ainda assim é dolorosa a compreensão e o trabalho de abrir os portões, regar as flores, por o tapete de bem vindo à porta.

Bloco a bloco, no caminho inverso, vai sendo retirado. Varro à poeira ao ver ao longe um corajoso visitante. Fique à vontade, pode entrar.