"...Tempo, tempo tempo... Já não me assustas mais. Acho que me acostumei com sua passagem. Cedi ao fato de que és livre, e que tens pressa.
Mas vez ou outra ainda te enrolo, e te faço parar por um instante. Te faço demorar um pouco enquanto eu olho nos olhos de quem amo. Enquanto eu gravo os momentos na memória,esperando a saudade chegar.
És livre, tens pressa, mas ainda guardo um pedacinho de ti, quando passas por mim. Te guardo quando percebo que não te tenho, e que daqui a pouco, me vou junto contigo
."

quinta-feira, 30 de maio de 2019

Crescer é perder a magia. Os antigos rituais, tradicionais e repletos de significados, se perdem. São engolidos. Somos engolidos pelas nossas escolhas e seus reflexos. Somos quem podemos ser.
Existe um limite de vezes em que podemos nos desculpar por ser quem somos, e ele é estabelecido  pela quantidade em que é possível uma melhora. Para além, é auto aceitar-se. Abraçar-se e compreender de onde viemos e o que nos trouxe até aqui.
De todas as constâncias da vida (e olha que são bem poucas), o medo é talvez a maior. O esforço de moldá-lo e dobrá-lo é constante, até que ele caiba no bolso e vá junto conosco nos nossos desafios.
Deixar pra trás as fantasias de criança e as festas de aniversário repletas de doces e gente é acordar de um sono profundo cheio de sonhos. É então, encarar as responsabilidades e consequências dos caminhos e oportunidades que tomamos e abraçar nosso destino construído a cada tijolo. Se construir é uma construção. Haja cimento. 

sexta-feira, 17 de maio de 2019

Ser livre é ser só. Essa era a desculpa. A questão com desculpas é que elas não são eternas. Facilmente caem por terra, despidas.
Ser só é solidão apenas. É estar cercado, e ainda, se encontrar de pé em meio ao vazio. É virar o mundo do avesso sob uma perspectiva na qual há uma vítima e múltiplos vilões destinados ao sofrimento do mocinho. Crescer nos mostra, no entanto, que não existem pessoas más ou boas, apenas pessoas. Vivendo suas vidas, seguindo seus motivos... não o fazemos também nós?
Ninguém é obrigado a gostar de nós. Ninguém assinou pela responsabilidade de segurar nossa mão e nos guiar através dos caminhos tortuosos da vida, e tomar essa responsabilidade não é fácil.
Perceber que as coisas e os laços são passageiros requer maturidade e desapego. Desprendimento. Se doar e se encontrar em cada olhar sem esperar o que vai ser dado em troca. Sem buscar abrigo e segurança na presença de outrem. 
Nossa natureza humana nos tendencia ao cuidado e ao apego, mas se olharmos para os lados, nos veremos sós. Uma ave só ainda pode alçar vôo e realizar os variados movimentos que quiser, todo o céu livre pra si. Perde, porém, a estabilidade do bando que a protege contra os ventos fortes, que direciona o caminho e oferece segurança.
A família é um bando fácil e difícil de pertencer pela mesma simples razão: Não escolhemos. Nela precisamos acolher os diferentes de nós mas que, desmorone o mundo, estarão ali. O restante é só história. Ninguém fica pra sempre. Resta o olhar desprendido. Resta doar tudo de si e esperar que seja suficiente. Ou nada esperar.

domingo, 5 de maio de 2019

O calçadão cheio ganha vida com pessoas caminhando em várias direções. Pensamentos focados nos passos, perdidos nos planos de almoço ou preocupados com os compromissos da semana. Mas hoje é domingo, e pelo menos por enquanto ainda se pode caminhar e sentir a brisa marítima, ver os cachorros passeando na calçada e os pares de rodas de patins e bicicletas na avenida.

Pessoas que vem e vão todos os dias e que, a um olhar desatento, pareceriam bastante semelhantes. Se parássemos pra notar, porém, perceberíamos a singularidade nos trejeitos de cada um. Os traços do rosto, o timbre da voz, o formato das unhas... cada um de nós construído por nossas vivências prévias, todos os segundos e respirações que nos trouxeram até aqui.

Para cada um desses encontros, um pedaço deixado: Um desconhecido com quem esbarrei sem querer na rua, mas que me sorriu bonito ao se desculpar. Uma pessoa com quem compartilhei uma viagem de ônibus e comentei brevemente sobre como o tempo virou e que a previsão era sol. Um amigo de infância que mudou de cidade, cuja mãe fazia sanduíches na misteira e suco de uva ao fim da tarde de brincadeiras. Um amigo que esteve presente (ainda que em intenção) todos os dias nos últimos 7 anos. Cada pessoa, da sua forma única, nos transformou, em uma vírgula que seja, do livro que somos.

Lidar com pessoas não é fácil. Cada briga, decepção, palavra ríspida facilmente nos lembra disso. E dói a dor desse desencontro... mas não supera a alegria do encontro. A beleza e a leveza de alma de um sorriso e uma conversa despretensiosa no ponto de ônibus.
A interação humana e suas vertentes de gentileza, empatia e amor são o combustível que mantém a roda do mundo girando. São nossa única e última esperança.