Ser livre é ser só. Essa era a desculpa. A questão com desculpas é que elas não são eternas. Facilmente caem por terra, despidas.
Ser só é solidão apenas. É estar cercado, e ainda, se encontrar de pé em meio ao vazio. É virar o mundo do avesso sob uma perspectiva na qual há uma vítima e múltiplos vilões destinados ao sofrimento do mocinho. Crescer nos mostra, no entanto, que não existem pessoas más ou boas, apenas pessoas. Vivendo suas vidas, seguindo seus motivos... não o fazemos também nós?
Ninguém é obrigado a gostar de nós. Ninguém assinou pela responsabilidade de segurar nossa mão e nos guiar através dos caminhos tortuosos da vida, e tomar essa responsabilidade não é fácil.
Perceber que as coisas e os laços são passageiros requer maturidade e desapego. Desprendimento. Se doar e se encontrar em cada olhar sem esperar o que vai ser dado em troca. Sem buscar abrigo e segurança na presença de outrem.
Nossa natureza humana nos tendencia ao cuidado e ao apego, mas se olharmos para os lados, nos veremos sós. Uma ave só ainda pode alçar vôo e realizar os variados movimentos que quiser, todo o céu livre pra si. Perde, porém, a estabilidade do bando que a protege contra os ventos fortes, que direciona o caminho e oferece segurança.
A família é um bando fácil e difícil de pertencer pela mesma simples razão: Não escolhemos. Nela precisamos acolher os diferentes de nós mas que, desmorone o mundo, estarão ali. O restante é só história. Ninguém fica pra sempre. Resta o olhar desprendido. Resta doar tudo de si e esperar que seja suficiente. Ou nada esperar.