O calçadão cheio ganha vida com pessoas caminhando em várias direções. Pensamentos focados nos passos, perdidos nos planos de almoço ou preocupados com os compromissos da semana. Mas hoje é domingo, e pelo menos por enquanto ainda se pode caminhar e sentir a brisa marítima, ver os cachorros passeando na calçada e os pares de rodas de patins e bicicletas na avenida.
Pessoas que vem e vão todos os dias e que, a um olhar desatento, pareceriam bastante semelhantes. Se parássemos pra notar, porém, perceberíamos a singularidade nos trejeitos de cada um. Os traços do rosto, o timbre da voz, o formato das unhas... cada um de nós construído por nossas vivências prévias, todos os segundos e respirações que nos trouxeram até aqui.
Para cada um desses encontros, um pedaço deixado: Um desconhecido com quem esbarrei sem querer na rua, mas que me sorriu bonito ao se desculpar. Uma pessoa com quem compartilhei uma viagem de ônibus e comentei brevemente sobre como o tempo virou e que a previsão era sol. Um amigo de infância que mudou de cidade, cuja mãe fazia sanduíches na misteira e suco de uva ao fim da tarde de brincadeiras. Um amigo que esteve presente (ainda que em intenção) todos os dias nos últimos 7 anos. Cada pessoa, da sua forma única, nos transformou, em uma vírgula que seja, do livro que somos.
Lidar com pessoas não é fácil. Cada briga, decepção, palavra ríspida facilmente nos lembra disso. E dói a dor desse desencontro... mas não supera a alegria do encontro. A beleza e a leveza de alma de um sorriso e uma conversa despretensiosa no ponto de ônibus.
A interação humana e suas vertentes de gentileza, empatia e amor são o combustível que mantém a roda do mundo girando. São nossa única e última esperança.