"...Tempo, tempo tempo... Já não me assustas mais. Acho que me acostumei com sua passagem. Cedi ao fato de que és livre, e que tens pressa.
Mas vez ou outra ainda te enrolo, e te faço parar por um instante. Te faço demorar um pouco enquanto eu olho nos olhos de quem amo. Enquanto eu gravo os momentos na memória,esperando a saudade chegar.
És livre, tens pressa, mas ainda guardo um pedacinho de ti, quando passas por mim. Te guardo quando percebo que não te tenho, e que daqui a pouco, me vou junto contigo
."

domingo, 5 de maio de 2019

O calçadão cheio ganha vida com pessoas caminhando em várias direções. Pensamentos focados nos passos, perdidos nos planos de almoço ou preocupados com os compromissos da semana. Mas hoje é domingo, e pelo menos por enquanto ainda se pode caminhar e sentir a brisa marítima, ver os cachorros passeando na calçada e os pares de rodas de patins e bicicletas na avenida.

Pessoas que vem e vão todos os dias e que, a um olhar desatento, pareceriam bastante semelhantes. Se parássemos pra notar, porém, perceberíamos a singularidade nos trejeitos de cada um. Os traços do rosto, o timbre da voz, o formato das unhas... cada um de nós construído por nossas vivências prévias, todos os segundos e respirações que nos trouxeram até aqui.

Para cada um desses encontros, um pedaço deixado: Um desconhecido com quem esbarrei sem querer na rua, mas que me sorriu bonito ao se desculpar. Uma pessoa com quem compartilhei uma viagem de ônibus e comentei brevemente sobre como o tempo virou e que a previsão era sol. Um amigo de infância que mudou de cidade, cuja mãe fazia sanduíches na misteira e suco de uva ao fim da tarde de brincadeiras. Um amigo que esteve presente (ainda que em intenção) todos os dias nos últimos 7 anos. Cada pessoa, da sua forma única, nos transformou, em uma vírgula que seja, do livro que somos.

Lidar com pessoas não é fácil. Cada briga, decepção, palavra ríspida facilmente nos lembra disso. E dói a dor desse desencontro... mas não supera a alegria do encontro. A beleza e a leveza de alma de um sorriso e uma conversa despretensiosa no ponto de ônibus.
A interação humana e suas vertentes de gentileza, empatia e amor são o combustível que mantém a roda do mundo girando. São nossa única e última esperança.