"...Tempo, tempo tempo... Já não me assustas mais. Acho que me acostumei com sua passagem. Cedi ao fato de que és livre, e que tens pressa.
Mas vez ou outra ainda te enrolo, e te faço parar por um instante. Te faço demorar um pouco enquanto eu olho nos olhos de quem amo. Enquanto eu gravo os momentos na memória,esperando a saudade chegar.
És livre, tens pressa, mas ainda guardo um pedacinho de ti, quando passas por mim. Te guardo quando percebo que não te tenho, e que daqui a pouco, me vou junto contigo
."

segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

 E então a semana acabou de um mês que acabou de um ano que acabou. Acabaram as expectativas. Os planos pro novo ano que chega talvez sejam pela primeira vez novos. Repetir as mesmas mentiras não tem mais sentido tendo sido vivido tantos fins. Fim da rotina. Fim das salas cheias, das festas cheias, dos abraços calorosos e de estar sempre rodeado de gente. Fim da despreocupação com a saúde, ainda que não a nossa, mas de um ente querido. Fim de enxergar tudo igual todo dia e viver pensando no próximo compromisso. Fim dos planners e planejamentos anuais. A vida botando fim nessa vontade nossa de manejar tudo. Tempo de repensar. Tempo de conhecer nosso verdadeiro eu, portas trancadas, confinados com nossos demônios. 

Tempo de reinventar. Recortar as roupas, mudar o corte de cabelo. De criar a partir do novo e seguir se adaptando. A vida segue. O ano novo chega com ou sem fogos, independente de nós. Seguimos. 


sábado, 27 de junho de 2020

Cronogramas prontos, planilhas preenchidas. O check list colorido compreende cada detalhe do processo. Com meus braços e dedos esticados e com algum esforço, alcanço todos os compromissos e cada coisa tem seu planejamento, espaço na agenda e atribuições aos responsáveis. Os projetos começam a caminhar para a fase de execução, e pra minha surpresa: as peças não se encaixam! O relatório não chegou, o membro da equipe não participou da reunião e pronto, lá vai meu cronograma por água abaixo... 
Acordei um dia mais pra menos que pra mais e não deu pra estudar aquele tópico separado desde domingo. Ficou só o espaço em branco no dia. Já foi. 

Dia após dia, tentativas de encaixar, nos meus moldes carinhosamente construídos e pintados, planos e pessoas. Falhas, todas elas. Tanto tempo gasto misturando as cores na aquarela... Pessoas são pássaros, livres e sós. Cada um no seu trajeto de voo. Planos são narrativas imperfeitas e insuficientes da realidade. 

Todo aprendizado é cíclico. Mais percalços serão necessários até enfim solidificar a ciência de que, embora pra chegar ao 7 eu queira somar 2 ao 5, também pode-se somar o 3 ao 4. Deve ser grande a coragem pra cortar os fios cuidadosamente atrelados à tudo que tentamos controlar. É na reconstrução que moram os novos projetos, novos olhares, resultados inesperados. As melhores coisas da vida acontecem sem aviso. 

quinta-feira, 28 de maio de 2020

Engraçado como parece que foi ontem... o fim de semana consumido pelos estudos, a caminhada no calçadão ao entardecer, o sorvete na promoção de domingo.
Os planos, as listas no planner, os pontos das folhas de caderno.
O almoço de todos os dias, surpresa do destino ao chegar na porta do restaurante. A caminhada atrasada até a aula que já começou.
Foi ontem e faz tanto tempo. Esqueci como era.
Me esqueci de como abrir os livros, ler os resumos e alocar as informações, sem a prova iminente. Me esqueci de como viver os dias sem uma data pra esperar. Me esqueci de como ser eu sem a rotina. O silêncio é ensurdecedor. Só o meu reflexo e o da luz da lâmpada artificial da minha sala. Me esqueci da cor-calor do sol. O inverno chegou.

sábado, 9 de maio de 2020

Me dê o inesperado, a quebra da rotina. O isolamento forçado e a convivência familiar ampliada. A distância. Me dê a nova realidade e as adaptações, os novos objetos prioritários de consumo: a máscara e o álcool em gel. Me dê o medo, a solidariedade, o luto. A apreensão e os gráficos ascendentes.

Criaremos uma memória a partir disso. Criaremos dias possíveis de viver sem a luz do sol e a brisa do mar. Criaremos momentos familiares e de proximidade. Criaremos senso de comunidade. Criaremos o novo e aos poucos, dedos na água, adentraremos o novo oceano e mergulharemos. Não dá mais pra voltar, o barco está em alto mar. Nada será como foi. Não seremos os mesmos.

A largada já foi dada e os que demorarem demais pra ouvir o disparo vão ficar pra trás. A partir de agora, só o horizonte azul. A tripulação de mãos dadas e lá vamos nós mar adiante.


I'ts gotta get easier somehow. But not today. 

quarta-feira, 29 de abril de 2020

Saudade é querer morar no outro. É não poder teletransportar.
É saber que nada é como antes. Já não somos os mesmos.
Estar preso na memória intocável, neblina que se dissipa.
É o carinho que falta, toque de conforto em intenção.
Querer voltar atrás, atravessar as portas, pontes, viagens no tempo.
Precisar estar presente avistando de longe.
É reservar e cuidar do espaço do outro no meu bem querer até que ele possa voltar.
É a certeza de que tudo vai ficar bem. 

segunda-feira, 27 de abril de 2020

I have forgiven myself
For not being ok
For not doing everything
For not being on top
For my need of space
For my way of dealing with things

In the forgiveness I've realized
The nothing to forgive
The embrace I just gave
To my true self

quarta-feira, 22 de abril de 2020

Fica. Arrasta a cadeira e se acomoda por aí que te faço um café. O mundo lá fora ainda é o mesmo e vai continuar sendo nos próximos instantes.
Me conta da vida, dos planos, dos passos. Me olha. Divide comigo. A pressa não tem porquê de ser. Amanhã os dias voltam a se embolar e passar num filme apressado. Amanhã o ponteiro volta a girar. Mas por enquanto fica.
Da passagem das coisas a gente entende, e sabe que já já tudo muda. Nenhum momento pode ser agarrado por tempo demais, mas só por agora, eu posso ficar. Escolho ficar. Só o que fica da vida, no final dos dias, são isso... os instantes em que paramos no tempo.

sexta-feira, 17 de abril de 2020

Tum, ta. Tum ta. A batida é agora perceptível. Os músculos da coxa vibram em sincronia com o movimento dos pés, inquietos. Tudo em segundo plano. O exercício aberto passa despercebido pelos olhos enquanto os pensamentos martelam as escolhas e as respostas. As tarefas interrompidas a cada 30 segundos pra verificar as atualizações.  A definição não podia ser mais clássica: estar no presente vivendo o futuro.
Portões trancados, tudo se expande. Gota vira onda e brisa, furacão. O mais tênue dos controles... Os pensamentos se amontoando para que não haja espaço vazio. As tarefas na agenda marcadas em vermelho. Portas trancadas, fantasmas confinados conosco. Nenhum lugar para ir.

I feel it all over now. 

quinta-feira, 9 de abril de 2020

Free bird

Ser livre é, frequentemente, ser só. O lembrete agora é guardado de cor. De cor: aquilo que está no coração.
A mudança de cenário sinaliza que a repetição das situações (erros?) não é casualidade mas o padrão. O ponto de transição foi pra sempre perdido. O novo se apresenta e toma lugar, resiliente, em meio à tantas outras mudanças  conquistadas... de que são feitas as correntes?

Às voltas com amizades distorcidas de sentido, ao fim do giro me vejo sempre só. Por um lado, sempre agraciada de encontrar no amor o melhor amigo, por outro, amaldiçoada de ter me restado apenas esse. Não devia ter que ser uma escolha.

Nas amarras invisíveis cautelosamente por mim tecidas, me enrolo como a presa da aranha dos meus pensamentos. Me alimento e retroalimento de impressões que só tem duas possíveis origens: a banalidade ou a inexistência.

O consolo da unicidade deu lugar à ciência do isolamento, e as grades, à tinta colorida do muro. O próximo passo é derrubá-lo. Crescer tem dessas coisas. Nenhuma escada alta demais é convidativa, e um caminho cheio de espinhos certamente desanima os visitantes. Mesmo a mim espantaria. Ainda assim é dolorosa a compreensão e o trabalho de abrir os portões, regar as flores, por o tapete de bem vindo à porta.

Bloco a bloco, no caminho inverso, vai sendo retirado. Varro à poeira ao ver ao longe um corajoso visitante. Fique à vontade, pode entrar.

sábado, 29 de fevereiro de 2020

Ela é assim.
Calmaria na tempestade, e às vezes, a própria tempestade.
Capaz de encontrar dentro de si a força que precisa pra se reerguer e se destruir e reconstruir e se construir o quanto for preciso. Capaz de traçar os caminhos e abrir os novos que quiser. Capaz de criar o todo a partir do nada e tomar as rédeas do próprio caos.
Ela é certeza, e quando não, em breve será. Com ela não há talvez, não há depois. Só há o agora e o som dos seus passos firmes seguindo pra onde ela quer chegar. E vai, é só olhar.